É contagioso Minha amiga Patsy estava me contando uma história. "Aí eu estava no teatro", ela começou, "e dobrei meu casaco com todo o cuidado no encosto da cadeira, mas então chegou um sujeito." E nesse momento eu a interrompi, porque esse negócio de casaco sempre me intrigou. Quando estou num teatro, dobro meu casaco no colo ou jogo no braço da cadeira, mas Patsy sempre estende o dela, agindo como se o encosto da poltrona estivesse com frio e ela não conseguisse se divertir enquanto ele estivesse sofrendo. "Por que você faz isso?", perguntei, e ela olhou para mim e disse: "Os germes, seu bobão. Pense em todas as pessoas que puseram a cabeça ali. Isso não te dá calafrios?". Tive de admitir que aquilo nunca tinha me ocorrido. "Ora, você nunca deita em cima da colcha de uma cama de hotel, deita?", ela perguntou, e eu de novo: Por que não? Não chego a botar a colcha na boca, mas recostar para fazer uns telefonemas. eu faço isso o tempo todo. "Mas você lava o telefone antes, certo?" "Hã. não." "Bom, isso é. perigoso", ela disse. Nesse mesmo viés, eu estava no supermercado com minha irmã Lisa e percebi que ela empurrava o carrinho com os cotovelos. "Por que isso?", perguntei. "Ah", ela respondeu, "ninguém quer tocar o guidão de um carrinho de supermercado com a mão. Essas coisas estão cheias de germes." Será que todo mundo pensa assim ou só os americanos? Uma vez, em Paris, fui a um supermercado perto de casa e vi um homem fazendo compras com uma cacatua - ela era do tamanho de uma águia adolescente e ficava empoleirada no guidão do carrinho. Contei isso a Lisa e ela disse: "Está vendo? Ninguém sabe que doenças aquele pássaro podia ter no pé!". Bem, o argumento era válido, mas nem todo mundo leva cacatuas ao supermercado. Em toda a minha vida de compras em supermercados, aquela foi a primeira vez que vi um pássaro exótico examinando o balcão de carnes. A única coisa preventiva que faço é lavar as roupas que compro em brechós - isso depois de ter pegado chato de uma calça usada. Eu tinha uns 25 anos na época e provavelmente teria me coçado até atingir o osso se um amigo não tivesse me levado a uma farmácia onde comprei um vidro de uma coisa chamada Quell. Depois de aplicar o remédio, rastelei meus pelos pubianos com um pente fino especial e deparei com uma coisa de arregalar os olhos: os monstrinhos que havia semanas se alimentavam da minha carne. Acho que é o que Patsy imagina quando olha para uma cadeira de teatro, e o que Lisa vê à espreita no guidão de um carrinho de supermercado. Mas tudo isso é insignificante se comparado ao que aconteceu com Hugh. Ele tinha oito anos de idade e morava no Congo quando notou uma marca vermelha na perna. Nada de mais - uma picada de mosquito, imaginou. No dia seguinte a marca ficou mais dolorida, e no outro dia, quando ele olhou, viu um verme saindo de lá. Poucas semanas depois aconteceu a mesma coisa com Maw Hamrick, que é como eu chamo Joan, a mãe de Hugh. O verme dela era menor que o do filho, se é que tamanho é documento. Se eu fosse criança e visse uma coisa saindo de um buraco na perna da minha mãe, procuraria o orfanato mais próximo e me ofereceria para adoção. Queimaria todas as fotos dela, destruiria tudo o que ela tivesse me dado e começaria tudo de novo, porque é simplesmente nojento. Um pai pode estar cheio de parasitas e, por alguma razão, ninguém vê problema nisso, mas em uma mãe, ou em qualquer mulher, é algo
imperdoável. "Ora, isso é um tanto chauvinista, não acha?", observou Maw Hamrick. Ela viera passar o Natal em Paris, assim como Lisa e o marido, Bob. Os presentes já tinham sido abertos e ela estava juntando os papéis de embrulho e os desamassando com as mãos. "Era só um parasita africano, as pessoas têm isso o tempo todo." Ela olhou para a cozinha, onde Hugh estava fazendo alguma coisa com um ganso. "Onde você quer que eu guarde esse papel, querido?" "Pode queimar", respondeu Hugh. "Ah, mas é tão bonito. Tem certeza que não vai querer usar de novo?" "Pode queimar", repetiu Hugh. "Que história é essa de verme?", perguntou Lisa. Estava deitada no sofá embaixo de uma coberta, ainda zonza da soneca. "Joan já teve um verme vivendo em sua perna", falei. Maw Hamrick jogou uma folha de papel de embrulho no fogo e disse: "Ah, eu não diria que ele estava vivo". "Mas estava dentro de você?", perguntou Lisa, e eu podia ver a cabeça dela remoendo: Será que alguma vez eu usei o banheiro depois dessa mulher? Será que toquei na xícara de café ou no prato dela? Preciso fazer um exame o mais breve possível. Será que os hospitais abrem no dia de Natal ou vou ter que esperar até amanhã? "Isso foi há muito tempo", disse Joan. "Mais ou menos quanto?", perguntou Lisa. "Sei lá. foi em 1968, talvez." Minha irmã balançou a cabeça, do jeito que as pessoas fazem quando estão realizando cálculos mentalmente. "Certo", falou, e eu me arrependi de ter trazido aquele assunto à tona. Lisa não estava mais olhando para Maw Hamrick, mas através dela, vendo o mesmo que veria uma máquina de raios X: um quebra-cabeça de ossos, com os milhares de vermes que não saíram de casa em 1968 fervilhando lá dentro. Eu costumava enxergar a mesma coisa, mas depois de quinze anos ou mais consegui superar isso e agora só vejo Maw Hamrick. Maw Hamrick passando roupas, Maw Hamrick lavando os pratos, Maw Hamrick levando o lixo para fora. Ela gosta de ser uma boa hóspede e está sempre à procura de algo para fazer. "Será que eu poderia.?", ela pergunta, e antes que termine eu respondo que sim, claro. "Você mandou minha mãe se arrastar de quatro na sala de visita?", pergunta Hugh, e eu respondo: "Bem, não exatamente. Apenas sugeri que, já que ela ia espanar os rodapés, essa seria a melhor maneira". Quando Maw Hamrick está por perto, não mexo um dedo. Todas as minhas tarefas passam automaticamente para ela, eu apenas me sento numa cadeira de balanço e levanto os pés de vez em quando para ela passar o aspirador de pó. É muito relaxante, só que pega mal para mim, principalmente se o trabalho for pesado - levar mobília para o porão, por exemplo, que também foi uma ideia que partiu dela. Uma vez mencionei de passagem que nós raramente usávamos o armário, e que algum dia alguém deveria levar aquilo para baixo. Eu não estava me referindo a ela, embora aos 66 anos de idade Maw Hamrick seja bem mais forte do que Hugh imagina. Nascida no Kentucky, está acostumada com trabalho pesado. Cortar e carregar lenha, todas essas atividades que fazem suar: na minha opinião, essas coisas estão nos genes dela. Só vira um problema quando tem mais gente por perto e eles veem aquela mulher frágil, de cabelos brancos, com suor escorrendo pela testa. Lisa e Bob, por exemplo, que estavam hospedados no apartamento vazio da Patsy. Sempre que eles vinham para jantar, Maw Hamrick pendurava seus casacos antes de esticar os guardanapos e botar a mesa. Depois servia drinques e ia para a cozinha ajudar Hugh.
"Você deu muita sorte mesmo", disse Lisa, suspirando, enquanto Joan corria para esvaziar o meu cinzeiro. A sogra dela tinha se mudado recentemente para uma moradia assistida, o tipo de lugar que renunciara à palavra "idoso" e onde os moradores eram chamados de "tigres de cabelos brancos". "Eu adoro a mãe do Bob, mas a do Hugh. meu Deus! E pensar que ela foi comida por vermes!" "Bem, tecnicamente eles não a comeram", comentei. "Então do que estavam vivendo? Vai me dizer que eles levaram a própria comida?" Suponho que ela estava certa, mas será que os bernes comem? Com certeza não comem gordura, ou nunca teriam procurado Joan, que pesa 45 quilos no máximo, e até hoje cabe em seu vestido de formatura. Nem músculos, ou ela jamais poderia fazer todos esses serviços para mim. Será que bebem sangue? Perfuram os ossos e sugam a medula? Eu ia perguntar, mas quando Maw Hamrick voltou para a sala o assunto havia mudado para colesterol, com Lisa dizendo: "Desculpe a curiosidade, Joan, mas qual é o seu nível?". Era o tipo de conversa que me deixava de fora. Eu nunca fiz um exame de colesterol - na verdade, nem sei direito o que é colesterol. Escuto a palavra e imagino um molho espesso, feito à mão, cheio de caroços. "Já tentou óleo de peixe?", perguntou Lisa. "Fez o nível do Bob descer de 380 para 220. Antes disso ele tomava Lipitor." Minha irmã sabe o nome e o remédio para cada uma das doenças conhecidas pela humanidade, um feito impressionante dado o fato de ela ser autodidata. Ictiose congênita, miosite ossificante, espondilolistese, enfermidades que exigiam Celebrex, Flexeril, hidrocloreto de oxicodona. Eu brinquei dizendo que ela nunca tinha comprado uma revista na vida, que só lia as que encontrava nas salas de espera de consultórios médicos, aí ela me perguntou como estava o meu nível de colesterol. "É melhor procurar um médico, meu senhor, porque você não é mais tão jovem quanto acha. E já que vai estar lá, talvez queira examinar essas verrugas." Não era um assunto sobre o qual eu queria falar, principalmente no Natal, com chamas na lareira, o apartamento cheirando a ganso. "Vamos falar de acidentes", observei. "Tem ouvido falar de alguns bons?" "Bem, não chega a ser exatamente um acidente", começou Lisa, "mas vocês sabiam que a cada ano 5 mil crianças morrem de susto?" Era um conceito difícil de entender, por isso ela se livrou da coberta e fez uma representação. "Digamos que uma garotinha está andando pelo corredor, brincando com os pais, e o papai salta de um canto dizendo 'Bu!' ou 'Peguei!', alguma coisa desse tipo. Pois é, numa dessas a criança pode desmaiar e morrer." "Não gosto nada disso", comentou Maw Hamrick. "Bem, nem eu", disse Lisa. "Só estou dizendo que acontece pelo menos 5 mil vezes por ano." "Nos Estados Unidos ou no mundo todo?", perguntou Maw Hamrick, e minha irmã gritou para o marido na outra sala. "Bob, são 5 mil crianças que morrem de susto por ano nos Estados Unidos ou no mundo inteiro?" Ele não respondeu, por isso Lisa decidiu que era só nos Estados Unidos. "E esses são apenas os casos registrados", continuou. "É bem provável que muitos pais não queiram assumir a responsabilidade, por isso a morte dos filhos é atribuída a outros fatores." "Coitadas dessas crianças", disse Maw Hamrick. "E os pais?", acrescentou Lisa. "Já imaginaram?" As duas categorias eram trágicas, mas fiquei pensando nas crianças que sobreviviam ou, pior ainda, nas substitutas, criadas numa atmosfera de sobriedade preventiva. "Muito bem, Catarina Segunda, quando chegarmos em casa um monte de gente vai
saltar de trás dos móveis e gritar 'Feliz aniversário!'. Estou dizendo isso agora porque não quero que você fique excitada com isso." Nenhuma surpresa, nenhuma piada de mau gosto, nada inesperado, mas os pais não podem controlar tudo, e ainda existe o mundo exterior a ser considerado, um mundo de estouros em escapamentos de automóveis e seus equivalentes humanos. Talvez um dia você olhe para baixo e veja um verme acenando uma cabeça triste e peniana de uma escotilha perfurada em sua perna. Se isso não fizer seu coração parar, não sei o que mais poderia, mas Hugh e a mãe parecem ter sobrevivido. E até mesmo se fortalecido. Os Hamrick são feitos de um material bem mais forte que o meu. É por isso que deixo que preparem o ganso, mudem os móveis e lavem as criaturas horrorosas das minhas roupas de segunda mão. Se alguma coisa pudesse matar os dois de susto, seria eu me propondo a ajudar, e por isso me recosto no sofá ao lado da minha irmã e ergo minha xícara de café no ar, pedindo mais uma.
LINDA LANIER-KEOSAIAN Response to Howard Gardner’s Keynote Address Bulletin of the Council for Research in Music Education Fall, 1999, No. 142 I remember where and when I first read Aldous Huxley’s Brave New World , so dramatic wasthe effect that it had upon me. It was terrifying to think, not only that the kind of tools for mind-control and life-control that Huxley described m
Professor Dr. med. Wilhelm Rimpau, Berlin Ärztliche Facette sieht so die Zukunft die Arzt – Patient - Beziehung aus? Öffentliche Werbung in Berlin für eine Pharmastudie: „Wir freuen uns, wenn Sie unter Epilepsie leiden“ . „bitte melden Sie sich bei .“. Doc Check/Newsletter 03/16 : „Mit Robotec auf Visite“: „Dr. Robot“, hergestellt von der Firma InTouch Health,